domingo, março 18, 2007

sábado, março 17, 2007

"Amar-te é esta distancia"


"Amar-te é esta distancia
e junto ao mar
senti-lo viajando
Azul e com estrondo

Amar-te é uma fogueira
sobre a onde
sítio de uma lavra
de milho ou mandioca
na areia que me foge
sob a espuma"*



*Manuel Rui

sexta-feira, março 16, 2007

segunda-feira, março 12, 2007

...my barbaric YAWP...

"I sound my barbaric YAWP over the roofs of the world."*


*Walt Whitman
in Leaves of Grass

sábado, março 10, 2007

Largo de Santo Antoninho

"Como dava beijos lentos, duravam-me mais os amores"*

Largo de Santo Antoninho.
Ouve-se a música de um vizinho qualquer. O bater das asas de vários pombos esvoaçantes.
O eléctrico passa várias vezes, para cima e para baixo, sempre ao seu ritmo assíncrono.
Várias almas circulam, cada um no seu tempo. Cães transitam tanto à frente, com atrás de seus donos!
Ouve-se o grito alegre das crianças que brincam. Às vezes, também as insinuações maldosas de umas para as outras.
Ao longe, ouve-se a voz de uma mãe que tenta impor algum respeito nas suas crias.
O chiar da corda da roupa junta-se a harmonia de vida própria do bairro.
Uma camisola verde aparece-me à vista. É já a segunda vez que me entra assim no olhar. - Gostava de a fotografar. - Penso.
Um grupo de cinco adolescentes entra no largo, mantendo sempre o ritmo da vida do mesmo. - Cátia Santos - distingue-se entre as palavras que eles trocam. Não faço ideia de qual delas é!
Ouve-se agora a música de outro vizinho. Uma voz masculina, grave, lenta, aconchega agora o bairro. Impera o silêncio.
A música lenta e distante provoca um baixar do barulho constante.
Numa janela de rés-do-chão, distingue-se os contornos de uma face já marcada pelo tempo. Uma velhota espreita o seu Antoninho.
Não sei precisar à quanto tempo, aquele olhar atento ali se encontra, mas desconfio que há bastante.
Nada parece escapar à sua vista rodeada de rugas.
Na esquina oposta, contorna um velhote com alguns sacos nas mãos. Acompanho as suas passadas, e noto, que se dirige a porta da nossa rugosa observadora.
A janela esta fechada! Não existe nenhum olhar observador dentro dela.
- Estaria a olhar a vida enquanto esperava o seu companheiro?
Acompanhando a green, delicio-me com uma castanhinha (pequeno bolo de chocolate coberto com um creme também do mesmo sabor). Delícia que se encontra aqui na "Da Mariquinhas".

Ao longe ouve-se uma sirene, portas a abrir e a fechar, pessoas a circular.

Aaahhhhhh. Que bem que se passa uma tarde solarenga num bairro lisboeta. Ser um eterno turista nesta cidade.






*Ramón Gómez de la Serna
in "Greguerías"

sexta-feira, março 09, 2007

Hoje vi a PRIMAVERA

Estava aqui parado a ver as pessoas que se moviam pelo bar escuro, enquanto reflectia nas palavras que tinha acabado de trocar com o Changuito. Faláramos sobre escritores e a maneira como isso mexe com a sua vida e com a sua personalidade.
E realmente, estar a olhar para uma folha de papel em branco, a pensar no que se irá escrever, é complicado. O cérebro parece que dá um nó. Nada sai!
Eu escrevo por prazer, por isso, dou-me ao luxo de não escrever... Mas e quem decidiu fazer disto profissão? Quem acaba por passar 8H por dia a olhar para uma folha de papel em branco?
Enquanto pensava nisto, uma imagem bateu-me à porta da cabeça...

Hoje vi a Primavera!

Tinha ido dar a minha volta pelo bairro. Ia alegre, bem disposto e, quando chego ao sítio escolhido para fazer os alongamentos, vejo-a.
Uma árvore - que infelizmente, devido ao meu fraco conhecimento de botánica, não soube identificar - encontrava-se completamente florida.
Os seus braços encham-se de delicadas petalas brancas. O seu chapêu, cheio de neve, balançava ao sabor da brisa que se sentia. O seu regaço forte e aconchegante, convidava ao abraço (Lembro-me, agora que escrevo isto, do dia em que, numa actividade de escuteiros, abracei uma árvore. Sentimento de conforto e bem estar que ainda hoje me acompanha).
Olhei para ela e disse-lhe:
- Amanhã venho fotografar-te!
Fiz os alongamentos e lá continuei o meu caminho. Observava ainda mais o bairro que percorria. Tinha os sentido atentos (tirando a audição que ia abafada pelo som que saia dos phones). Quando algum cão vinha no quintal ladrar-me ameaçadoramente, olhava para ele, sorria e dizia:
- Boa noite fofito. Vá, vai lá para dentro que aqui fora ainda esta frio e dás cabo da garganta.
E lá continuava sem sequer abrandar o passo.
Paro!
Acabei de ver uma árvore nua. Nos seus braços via-se o inverno. Na sua seiva sentia-se ainda o gelo.
Olhei para ela!
Sorri!
Disse-lhe:
- Linda, já esta a chegar a primavera! Para a semana, quero ver já uma folhitas no teu regaço.
E segui novamente o meu caminho.
Estava feliz.
Foi um dia Fantástico.

quinta-feira, março 08, 2007

Queima e Rebentamento do Judas 2007

Aproxima-se a passos largos o famoso espectáculo que já há muito que é fruto da mente de alguns sonhadores, concretizado por centenas de participantes activos e dedicados, e visto por milhares de pessoas que se deslocam sempre, esteja chuva, frio ou apenas uma noite agradável, ao recinto. Com o intuito de queimar o dito culpado dos males do mundo.

JUDAS, personagem sempre presente, será acusada, condenada e executada uma vez mais.

A semana de preparação aproxima-se... de 1 a 7 de Abril, centenas de pessoas percorrerão o espaço da Associação Cultural e Recreativa de Tondela com o intuito a transformar pedaços de cana, folhas de papel, tecidos, tintas, movimentos, sonhos e fantasias num grande espectáculo com a duração aproximada de 1 hora, a realizar-se na noite de Sábado.

Assim, como não podia deixar de ser, as férias estão já marcadas para que possa estar presente durante a concepção da FÁBRICA DA QUEIMA e do seu rebentamento.

As inscrições são abertas a todos que queiram sonhar, trabalhar e partilhar vivências lado a lado com umas centenas de outras gentis almas...

Vem connosco, vem sonhar, vem começar um novo ano, dando um enterro merecido aos problemas que para trás ficaram...

O Judas esta ai... vem queima-lo.

La Tigre e la Neve

Depois de um ter vivido um milhar de sentimentos distintos.
Depois de ter passado quase 2horas a rir... chorar... sorrir... encolher-me no sofá... Sentar-me rapidamente como se uma mola me empurra-se... rir à gargalhada... e por fim ficar enternecido a olhar...
Tive de vir aqui.

Roberto Benigni criou um filme cheio de emoção, sentimento, comédia, paixão, amor... eu sei lá.

La Tigre e la Neve é um filme que nos transporta entre o sonho e a realidade das personagens. Que nos leva em viagens reais e surreais. Que nos deixa perguntas sem respostas e outras certezas sem perguntas.

Um poeta vive, ama, sofre... Mas é feliz. Sofre e chora como todos, mas sofre ainda mais porque é feliz. Sente a solidão e a destruição que há em sua volta... Mas ainda mais que os outros porque é feliz. E é feliz porque ama. Porque sabe o que é o amor e quer amar. Porque é capaz de esperar 8 meses até que a palavra certa saia. Porque é capaz de se deitar no chão... Porque é nessa posição que se vê melhor o céu.

Não tem medo de cheirar a camelo. Tem medo, sim, de se zangar com uma palavra. E é capaz de ficar zangado com ela, até ela ir-lhe pedir desculpa por não ter entendido o que ele realmente queria dizer e ter-se forçado no seu cérebro.

Tem medo de não conseguir fazer pular o coração dos outros da mesma maneira que o pula no peito o seu próprio coração.

Medo de se fechar e deixar que tudo à sua volta passe tão depressa que ele não é capaz de olhar para cada pedaço com calma e atenção.
Um poeta não vê, olha! Observa tudo!

Um poeta imita uma árvore, se um pássaro poisar no seu ombro.

Infelizmente não sou poeta... Nem quero ser! Mas quero observar o mundo. Sofrer porque sou feliz, chorar porque estou contente, rir porque estou vivo, e a vida deve ser feita a rir.

Enquanto escrevo isto, deixo as teclas de um piano invadirem-me os tímpanos. Aproveitando ainda o portátil ligado à aparelhagem, ouço a banda sonora do filme que falei no último post e ao qual não lhe fiz render a sua devida homenagem. Mas não me vou repetir falando dele... Vou sim é dizer que escrevo... Porque me apetece... E apetece-me escrever sem ter nada para dizer!

Falar de como me correu o dia faz-me perder a paciência, por isso, nem disso vou falar... Apetece-me... lembrar... lembrar-me de imagens...

De como estava a lua no sábado passado, muito antes do eclipse, eram umas 18h e conduzia o meu saxo no caos da 2ª Circular em Lisboa. Encontrava-me já atrasado, e apesar de não ultrapassar muito os limites de velocidade, tive de abrandar e olhar para ela... Ela lá estava, cheia e imponente, sentia que se esticasse o braço lhe conseguiria tocar...


Hoje, quando sai do trabalho, não me apeteceu ir logo para casa, então, estacionando o carro à porta, sai em direcção a um café... Fui beber um galão e comer um bolo... Sim eu sei que estou de dieta, ou deveria estar... mas soube tão bem... Não o bolo por ser bolo e doce, mas a calma... O ver ainda o sol a preparar a sua cama para se deitar... O sentar-me no café enquanto falava ao telemóvel e olhava as pessoas à minha volta... Depois ir para casa, vestir o fato de treino e sair para dar uma volta e fazer um pouco de desporto... Estou a adorar caminhar pelo meu bairro à noite... Ver as pessoas que olham para mim como se de um louco se trata-se. Um gaijo, no meio de uma cidade atarefada e sempre atrasada para tudo, com os phones nos ouvidos, vestido com um fato de treino e a caminhar com o passo acelerado.

Agora que aqui estou a escrever isto, vejo uma imagem... não algo que tenha visto, mas que me contaram ao telefone... O pôr-do-sol... Quando o sol chega aquele ponto em que ainda não entrou na cama, mas já esta com o pijama vestido... Aquele amarelo que não encandeia quando se olha, mas que atrai... Que nos acalma... Só posso agradecer por me terem contado esta imagem...

Não sei o que fazer a seguir... Devia ir para a cama descansar... Mas sabe tão bem estar a ouvir este piano... Sentir a vela arder ao meu lado...

Já sei... vou levar a vela para a sala e lá deitar-me-ei no chão... com a música a entrar em mim...