segunda-feira, outubro 31, 2005

Apetecia-me...

Nesta manhã fria
Onde o sol vai, timidamente, espreitando entre as nuvens
Apetecia-me estar ali.
Deixar aquela água gélida
Cair sobre o meu corpo
Deixar-me invadir pelas suas forças
Permitir que aquela pureza cortante me envolva.
Apetecia-me...
Nesta manhã triste sair a correr
Deixar as minhas pernas sentirem o asfalto por baixo
Deixar o meu ser verter gotas salgadas
E correr...
Para depois mergulhar e me lavar aqui...
Na corrente intensa e desconfortante.
Deixar que tal azul me queime.
Depois...
Iria deitar-me num rochedo ao sol
E finalmente, encher o meu corpo de calor e bem estar
Para poder voltar a usar as vestes do dia-a-dia.
De modo a prosseguir a viagem.
O eterno e longo percurso
Umas vezes com lamentos outros com certezas
Pela incansável estrada da vida.

sexta-feira, outubro 28, 2005

Gripe das Aves

"O síndroma originado pelos vírus influenza foi referido pela primeira vez por Hipócrates, no ano 412 AC, e a primeira descrição completa de uma pandemia gripal data de 1580 (Era Cristã); desde então ocorreram mais de 30 pandemias causadas por diferentes tipos de vírus influenza. No século XX houve três grandes pandemias, todas originadas e transmitidas por animais (suínos em 1918 e aves em 1957 e 1968). A mais devastadora foi a "gripe espanhola", devida ao vírus Influenzae A(H1N1), que matou entre 30 e 40 milhões de pessoas entre 1918 e 1920. As pandemias de 1957 (gripe asiática) e de 1968 (gripe de Hong Kong) mataram mais de 4 milhões de pessoas, sobretudo crianças e idosos; a primeira foi devida ao subtipo A(H2N2) e a segunda aos subtipos A(H3N2) e A(H1N1)." Pode ler o resto do texto AQUI.

Depois de ter lido o texto todo, deparei-me com um comentário que era exactamente o que eu queria saber, como é que a gripe se transmite?
Já ouvi falar muito da gripe das aves e etc, mas pouco sobre a sua transmissão.

Então eles lá dizem: "comprovaram posteriormente a transmissão animal-homem (aves vivas → homem) e a inexistência de risco de infecção através do contacto ou consumo de carnes frescas ou congeladas dos animais. Contudo, ainda não foi possível excluir-se a possibilidade de transmissão homem-homem."

Já tinha ouvida bastantes pessoas comentar que se tinha de ter cuidado com a carne que se come. Que era como o problema das vacas loucas, e etc. Afinal o vírus transmite-se de Animais Vivos e não pelo consumo de carne. O que realmente não teria lógica, visto tratar-se de uma gripe.

O que fazer para prevenir... Não vou estar aqui a escrever muita coisa, visto que pelo menos 90% do que se pode fazer é responsabilidade do nosso governo e das suas unidades fiscalizadoras. E poderão encontrar o texto no site que já indiquei atrás. No entanto, cada um de nós, pode fazer a sua parte, cuidado da sua saúde. Fazendo análises periódicas, evitando contactos com animais (aves e não só) que não conhece. Mas isto é algo que cada um já devia fazer à muito tempo. Isto é prevenção! E acreditem não custa nada prevenir...
Se querem um conselho... Sejam dadores de sangue. Fazem análises de borla e ainda renovam o vosso sangue. A ok e como consequência enchemos os hospitais com sangue, para acudirem a quem precisa. Mas pronto... epá... isto é o que menos importa!

Para os amantes de aves. Os que tem os periquitos, papagaios, canários e outros pássaros que tais em casa... Uma visita periódica aos veterinários também não custa nada... As coisas infelizmente não acontecem só aos outros... Alias se acontecerem só aos outros, tu para mim és o outro e eu para ti sou o outro... Por isso... é uma questão de perspectiva!

E para agora fartei-me de escrever para os outros... Até logo e lêem o outro site referido...

quinta-feira, outubro 27, 2005

Mundo do Fim do Mundo


"Mundo do Fim do Mundo"
Luís Sepúlveda

Do mesmo escritor que "O velho que lia romances de amor" chega-nos também uma outra viagem mágica.

Para quem esta, neste momento, com sentimentos desconfortáveis com gaivotas e outros animais com penas, fica aqui um livro fantástico.

Um jovem que, na sua infância, lê o grande livro Moby Dick e que aproveitando as férias de verão, embarca num baleeiro.

O tempo passa.

O jovem cresce.

E anos depois, esta experiência volta a baila quando embarca novamente numa aventura envolvendo aqueles monstros dos oceanos... As baleias...

Animais que aqui serão mistificados. Elevados ao estatudo de muito mais inteligentes e humanos que o próprio homem.

O escritor consegue maravilhar-nos mais uma vez com uma estória passada no fim do mundo.

Nos confins da terra a nossa personagem volta a confrontar-se com aqueles animais! Apesar de por razões diferentes que da primeira vez mas igualmente romântica, ele sai em defesa destes seres... Mas como pode uma pessoa sozinha, ajudar um grupo de animais destas envergadura?

Eu re-li este livro numa noite...

Eu deliciei-me em sonhos e viagens.

Eu nadei ao lado destas toneladas de escamas e carnes.

Estes seres mágicos e puros.

E estou aqui para dizer... Lê! Não tenhas receio... A gripe anda pelo ar... A água... é só mesmo petróleo e mercúrio... Ainda não há gripe que invada isso.:P

quarta-feira, outubro 26, 2005

História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar

História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar

SEPULVEDA, LUÍS


Ora aqui está um livro de que realmente vale a pena falar.
“com a graça de uma fábula e a força de uma parábola”



Pois é... o escritor chileno, nascido no ano do senhor de 1949, escreveu em tempos um conto memorável, digno para todas as idades.

A estória começa no meio de uma balbúrdia de gaivotas, que no meio da sua rota de migração, fazem consecutivos mergulhos para se ir alimentar.

Aqui, este antigo habitante de Hamburgo, confronta-nos com um problema moderno... A maré negra.

As gaivotas são apanhadas desprevenidas por uma grande massa de petróleo, que algum barco, por todos os motivos e mais algum, deixa vazar para o oceano.

Claro que não vou estar para aqui a escrever um resumo do livro... Querem saber algo mais, leiam!

São apenas 128 páginas de puro deleite e prazer.
Como já tinha transcrito em cima, "com a graça de uma fábula e a força de uma parábola" este perspicaz narrador, envolve-nos num mundo fantástico. Onde as características humanas da honra, do compromisso, da amizade. Também o medo, o grupo, a força, o estratagema, os acordos, os tabus, são entregues a cada uma das personagens.

O gato grande, gordo e preto conhecido por Zorbas, com os seus amigos Secretário, Sabetudo, Barlavento e Colonello serão algumas das personagens que Sepúlveda criou para nos oferecer este livro cheio de esperança e calor.

Deixei-me envolver neste lugar. Permiti-me apaixonar pelos seus actores e cenários. Autorizei-me a percorrer cada trilho criado em cada frase...

E sempre que posso; volto lá! Aquele mundo foi visitado por mim, e marcou. Deixou um sentimento de saudade bem cravado no meu coração. E de quando a quando, tenho de lá ir! Tenho de voltar a viajar aquele porto marítimo e bater à porta de cada um destes meus amigos. Até dos ratos claro.

domingo, outubro 23, 2005

"Harry Potter E o Príncipe Misterioso"


Acabei de ler, finalmente, o sexto livro daquela mulherzinha inglêsa, que conquistou tudo e todos com o seu mundo de fantasia.

Desde que li o segundo livro da colecção fiquei, desesperadamente, à espera que sai-se o seguinte. Por tal, mal reparava que o livro original saia, dirigia-me logo a internet mais próxima e fazia o download do pdf.

Normalmente detesto ler coisas no monitor. Fico com dor de cabeça, cansado, olhos vermelhos, etc. Mas a sede de leitura neste caso era bem maior.

Lia, lia, lia e lia e não parava de ler até acabar-lo.

Desde que li o primeiro de todos, ainda vivia em Leiria, já lá vão mais de 6 anos. Que foi assim. Nessa noite, lembro-me de ter entrado numa livraria que estava aberta as 20h de domingo. Tinha acabado de chegar de Viseu e tinha ido dar uma volta.
Com o livro debaixo do braço, sentei-me num café a ler... Mas passado segundos, pensava eu, vieram dizer-me que o café ia fechar. Paguei, e ao sair, olhando para o relogio, reparei que eram já 23h.
Fui para casa, lavei os dentes e preparo-me para ir para a cama.
Deito-me.
Começo as voltas recebendo flashes na mente de imagens do livro... Não resisto, ligo novamente a luz e continuo a ler...
Só parei as 04h quando acabei.

Agora vamos no sexto.
"Harry Potter and the the Half-Blood Prince"

Bem, começamos logo pela tradução do título... Mas pronto até perdoo... Ficaria feio um título Harry Potter e o príncipe Meio-Sangue... Se bem que depois durante o livro, o príncipe é sempre referido assim. Não sei porque só mudaram para o título??

Depois a tradução... Ó meus amigos... Erros ortográficos??? Má construção de frases???

Num livro que se espera vender milhares, até milhões de copias por todo o mundo, e sendo uma das mais lidas a versão portuguesa... A Editorial Presença atreveu-se a enviar cá para fora um livro com erros ortográficos e má construção de frases?

A minha alma esta parva.

Paga uma pessoa quase €20 por um livro, e leva com estas coisas???

PUTA QUE OS PARIU... Não sei que mais dizer...

quarta-feira, outubro 19, 2005

Mudar de vida...

Não... Não vou falar da música número 3 do Álbum "Humanos".

Alias, para ser sincero, até nem deveria ser este o nome do post.

Sendo fiel ao que vou escrever, deveria ser mais "trocaram-me as voltas".

Mas pronto... aceito críticas e outros comentários do género nesse sentido.

Encontrava-me eu a caminho do meu bar de eleição do momento, "Bar A Barraca" para assistir a mais uma noite de poesia.
Ia confiante de encontrar mais um momento cultural, cómico e até sárcastico. (Ter esperanças é algo muito bom).
E chegando lá, encontrei o grande Changuito Joaquim, barman de serviço constante a este anafado e respeitado bar, bastante divertido, brincalhão, alegre, bem-disposto, e uma série de outros adjectivos que poderia escrever (todos eles, claro, em parceria com os anteriores). Pensando bem, até acho ser é a primeira vez, desde que conheci estar personagem dúbia, que a vejo assim tão cheia de brilho. E até me pareceu vê-lo a respirar vida... Mas devo estar enganado.
A poesia prometia... Quem fosse informar-se junto ao site/blog do bar, ficaria bastante pensativo relativamente as escolhas poéticas que o leitor (sim, além de barman, este singelo personagem declama certas frases e outras conjugações de palavras e frases bastante interessantes).

Mas, qual não é o meu espanto quando percebo, que estava a decorrer no andar de baixo, a ante-estreia do novo espectáculo da companhia que partilha o espaço, "O Mistério da Camioneta Fantasma". (Dizem ser um bom... mas sobre ele escreverei, ou não, quando visualizar tal falado espectáculo

Claro, quem é que sai de um espectáculo e pensa ir sentar-se a ver/ouvir mais um pedaço de poesia? Seria já muita actividade cultural para uma pessoa só.

Então claro, já que tinha feito a deslocação, fiquei para lá a fazer uma outra das minha actividades preferidas. Beber umas cervejas e trocar meia dúzia de palavras com pessoas mais ou menos conhecidas.

E agora... Chegando a casa, roubado à poesia, mas com a oferta do companheirismo, escrevo estas linhas pobres e sem objectividade nenhuma.

segunda-feira, outubro 17, 2005

Humanos - Quero é Viver

Humanos - Quero é Viver

"Vou viver
Ate quando eu não sei
Que importa o que serei
Quero é viver
Amanhã
Espero sempre um amanhã
E acredito que será
Mais um prazer
A vida é sempre uma curiosidade
Que me desperta com a idade
Interessa-me o que está para vir.
E a vida
Em mim é sempre uma certeza
Que nasce da minha riqueza
Do meu prazer em descobrir
Encontrar, renovar, vou fugir ao repetir"


Hoje resolvi começar o dia a ouvir estes gaijos... Letras de 1984... e no entanto tão actuais...
E resolvi escolher esta, entre todas as outras que também são soberbas...

Mas esta tem que se lhe diga... Ora vejamos... "Vou viver / até quando eu não sei / que importa o que serei / Quero é viver"

Pois é isto mesmo que sinto...
As vezes sinto-me em baixo por não saber o que vou ser amanhã em termos profissionais...
Mas realmente estou-me a cagar para isso... Sempre vivi a minha vida a dar muita mais importância as pessoas e as relações interpessoais... Porque é que agora quero pensar no futuro dessa maneira?
Não vale mesmo a pena...

"Quero é viver
Amanhã
Espero sempre um amanhã
E acredito que será
Mais um prazer"

Abreijos a todos

quarta-feira, outubro 12, 2005

Montanha-Russa





Toda a gente conhece e quase toda já andou neste divertimento popular…

Também toda a gente já utilizou, ou ouviu alguém utilizar, este substantivo feminino, para expressar a sua variação de sentimentos…

Pois é…

Emoções fortes

Elevação máxima de sentidos

Adrenalina invasora

Sempre mais além

Sobe

Desce

Virou!

Desce mais

Sobe

Cambalhota

Desce

Desce ainda

Forte

Rápido

Cruel

Brutal

Sobe

Respira

Não respira

Desce

Adrenalina

Sentimentos duros

Medo

Pânico

Alívio

Sobe

Desce

Um nunca mais acabar

…. PPPPPPPPPPÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁRRRRRAAAAAAAAA!!!


“…Mais uma fichinha mais uma voltinha…”
Ouve-se uma voz, ampliada pelos altifalantes da feira.
Preparas-te para sair, mas sentes no bolso ainda mais uma ficha.
E a viagem recomeça!...
Já conheces cada uma das subidas e descidas.
Já percorreste aquela montanha-russa vezes e vezes sem conta.
Mas também sabes, que vais voltar a gritar em cada descida.
Que o teu coração vai querer fugir pela tua boca.
Que a adrenalina irá invadir os membros…


A boca fica seca.
A respiração ofegante.
O medo obriga-te a fechar os olhos.
Agarras-te possantemente ao primeiro objecto forte e resistente que encontras.
Inclinas o corpo para a frente.
Queres que a viagem acabe depressa.

E – Quando a viagem chega ao fim?
Esperas voltar a ouvir a voz ampliada nos altifalantes?
Voltarás a ir?
Voltarás a conseguir passar pelo medo e insegurança?
Mesmo que saibas que há um fim esperante?


A minha carruagem ainda não parou.
Depois eu digo-te.
Ou talvez não...

quinta-feira, outubro 06, 2005

Conto

Ontem estive aqui, sentado nesta mesma mesa.
Estive a escrever e no fim, acabei por assistir também a um espectáculo bastante bom.
Eram duas.
Uma italiana. Uma portuguesa.
Alice Ruhrwacear e Susana Reis.

Ambas cantavam, ambas tocavam acordeão.
E contaram uma história.
Uma história que não resisto em partilhar com vocês.
Claro. Não vou cantar nem tocar acordeão.
Vou apenas contar a história tal e qual me lembra.
Quase de certeza vou acrescentar um ponto. Não seria um contador se o não fizesse.

“Era uma terra branca, fria, feita de gelo. Essa terra branca tinha linhas pretas.
Essas linhas pretas não eram mais do que o mar.
Estamos no Alasca. Há muito anos atrás.

A lua estava cheia. Por isso a terra era tão branca. O gelo tão brilhante. E o mar tão negro.
Numa dessas linhas pretas vai um barco.
No barco vai um homem.
O homem navega. Sem rumo. Procurando.
Procurando não se sabe bem o que.
Ao longe, mesmo no meio da linha preta, destaca-se um ponto branco.
O ponto branco vai-se transformando numa ilha de gelo.
Na ilha de gelo estão pessoas a dançar.
As pessoas são apenas mulheres.
As mulheres dançam… nuas.

Segundo dizem as lendas, as focas são mulheres disfarçadas. Que se fartaram dos homens e foram viver para o mar.

O homem fica sem saber o que fazer.
Aproximo-me? Afasto-me? Paro?
As mulheres dançam. Parecem convida-lo a aproximar-se.
Ele aproxima-se…
Repara que na ilha existem pequenos pacotes. Esses pacotes são as pelas que as mulheres vestem para serem focas.
As mulheres reparam no homem.
Gritam! E muito rapidamente, correm a vestir as peles para mergulharem no mar.
Todas. Todas menos uma.
Uma ainda anda de um lado para o outro a procura da sua pele.
A pele não esta em lado nenhum.
As outras focas chamam-na.
Ela pensa: “a pele não esta aqui. As minhas irmãs não a tiraram. Só pode ter sido o homem.”
Então a mulher nua, coloca as mãos na cintura, e olhado para o homem, diz com voz zangada: “Dá-me a minha pele!”
Do homem não sai resposta.
O homem já não falava com ninguém a demasiado tempo.
Ainda lhe custa fazer sons.
Articular palavras.
E o que dizer?
Ele já não se lembra o que se deve dizer. Muito menos a uma mulher. “O que se diz a uma mulher?”
“Fica comigo!” Ouve-se o homem pedir.
“Fica comigo 7 anos. No fim desses devolvo-te a pele!”
A mulher olha para o homem.
Um homem e uma mulher. À luz da lua cheia, no cimo de um ponto branco, no meio de uma linha preta.
E a mulher aceita.
Partem os dois.
Constroem um pequeno iglô.
E o tempo passa.
Um homem… Uma mulher… Sozinhos num iglô…
Nasce uma criança.
Chamam-na de ORUK.
Eu não sei, mas há quem diga que Oruk é o som que o vento faz sobre o gelo… Oruuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuukkkkk………..
E a criança cresce. Um pouquinho cada dia. Como qualquer um de nós.
Passam 2 anos…
Passam 3…
A criança começa a aprender.
Do pai, durante o dia, aprende as coisas práticas, concretas. “Um buraco no gelo corta-se assim” ensina-lhe. “Isto é um barco!” “O anzol prende-se desta maneira!”
Aprende o dia-a-dia. Aprender que dois mais dois é igual a quatro.
De noite, com a mãe, aprende a alma das coisas.
A mãe conta-lhe que na terra dela há milhares de peixes diferentes. Existe o plâncton. Existem peixes que mudam de cor. Existem até peixes tão grandes, tão grandes, tão grandes, que o pequeno iglô deles é apenas o tamanho de 2 dentes. Esses peixes chamam-se baleias.
E a mãe conta-lhe histórias das suas tias. Sim a mãe tem um clã, um grupo. Ele tem milhares de tias que nunca conheceu.
E os anos continuam a passar.
4
5
6
E Oruk continua a crescer.
A ser educado de dia pelo pai e de noite pela mãe.
No entanto, a relação entre os pais é complexa.
Discutem por diversas coisas.
“Meu filho, aquela constelação que ali vês é o pescador”
“Não senhor, isso é errado” Diz a mãe “Essa constelação é a baleia”
“Não é nada” Responde o pai. “Essa é o pescador, e a verdade é essa”
“Não, essa é a baleia, aquela ali é a foca menor, logo ao lado esta a foca maior, e na sua cauda, esta a estrela-do-mar.”
E por isto e muitas outras coisas os pais discutem e nunca chegam a uma conclusão.
E o tempo passa.
8
9
10 anos.
E o homem não devolve a pele a mãe.
Pensa para com os seus botões: “Para que vou eu devolver a pele? Ela agora tem responsabilidades. Tem o filho para criar. Tem as tarefas da casa para fazer. Ela agora não pode, nem quer, ir embora!”
Por seu lado a mulher não pede a pele. Pensa: “Ele nunca me irá dar a pele. Tem o Oruk e não o quer deixar sem mãe. Tenho sempre a comida pronta e a casa arrumada. Ele nunca me deixará ir embora!”
E Oruk vê a mãe cada vez mais magra.
Sentada a beira-mar, embrulhada no xaile. Com a eterna lágrima de saudade a escorrer pelo rosto.
A pele seca.
Cada dia que passava mais fraca ficava.
Mas não conseguia pedir a pele ao homem.
Oruk acorda com um grito!
Era a sua mãe.
Oruk ouve o vento chama-lo…
Oruuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuukkkkk………..
Sai a correr atrás do chamamento.
Corre.
Corre.
Corre.

Cai!

Ao levantar-se começa a observar o local onde caiu.
Encontra um pacote. Bem apertado, cheio de cordel.
Abre-o.
E, a medida que as pontas se vão desenrolando nos seus pequenos dedos, sente o cheiro de sua mãe.
Rapidamente Oruk percebe que aquilo é o motivo da tristeza da sua mãe.
Sai a correr em direcção a sua mãe. Com o embrulho debaixo dos braços.
Encontra-a a beira-mar.
E, sem dizer uma palavra, estende-lhe o embrulho.
A mãe, com a cara de espanto, recebe o embrulho. Olha para o filho! Desenrola a pele. Olha para o filho. Lentamente veste a pele. E, respira para cima de Oruk sete vezes.
E vão os dois para o mar.
Oruk, graças à mãe, conseguirá ficar sete dias debaixo do mar.
Nadam. Oruk conhece finalmente as suas tias… Têm tantas… Fala com cada uma delas, nada com elas. Conhece o clã.
Vê os peixes de mil cores. Saboreia o plâncton. “É doce.”
Vê as baleias passarem.
E então Oruk conhece algo novo.
Algo que o envolve. Algo que se ouve e se sente fisicamente.
Oruk conheceu um som diferente. Novo.
Era como receber um abraço. Oruk já não se lembrava, mas jurava que era quase como voltar ao ventre materno.
Mas os sete dias chegam ao fim. E Oruk volta para terra. A mãe vai leva-lo. As tias acompanham-no.
Chegando a margem. A mãe rasga um pedaço, estende-o a Oruk, beija-o na testa e volta a mergulhar para junto das irmãs. Partem.
Oruk pega então no pedaço de pele que sua mãe lhe ofereceu. Dirige-se ao Iglô.
E com aquele pedaço, constrói o primeiro instrumento do mundo.
O TAMBOR!
Então, Oruk parte!
Dá a volta ao mundo, para que toda a gente conheça o som do mar. Aquele som que abraça e acaricia…”

Isto é o que me lembro da história que ouvi. Se esta tal e qual não sei dizer. Mas aconselho a quem poder que ouça como eu ouvi.

Programação - Música - Itália Vs. Portugal


Entrega…

Nestes últimos dias tenho sentido um emaranhar de sentimentos difusos e complexos.
Já ouvi muitas comparações a tentar explicar a vida. Talvez ouvi demasiadas. Todas elas bastante iguais. Mas neste momento, uma distancia-se das outras: “A vida é como um jogo de xadrez! Desenrola-se consoante tu espalhas as peças no tabuleiro!”
Tenho de admitir que concordo imenso com esta comparação.
No entanto… parece-me faltar algo!
Joguei e jogo xadrez bastantes vezes! A maior parte das vezes perdi o jogo.
Pouco ou nada conheço de Kasparov.
Desconheço completamente as famosas jogadas estudadas e programadas.
Basicamente sei mexer as peças. O resto vem de dentro.
Jogo com os sentidos.
Com o estado de espírito do momento.
Talvez por isso perca tanto!
Talvez me devesse preparar mais!
No entanto… No entanto gosto de jogar assim.
Gosto de sentir que faço parte do jogo.
Sou torre e peão ao mesmo tempo.
Sou eu quem decide, como ser irá comportar cada uma das minhas 16 peças da vida.
E cada uma delas mexe-se consoante estou naquele preciso momento.
E é isto que sinto falta na comparação que atrás escrevi.
Falta a alma.
Aqui à uns dias atrás, vi duas pessoas a jogar xadrez. Uma delas encontrava-se de costas para tabuleiro de jogo. Possuía apenas nas suas mãos um tabuleiro vazio. E ia guardando a imagem visual das peças.
“CAVALO DE RAINHA PARA C3”
Tanto conhecimento de jogo!
Tanta lembrança visual das peças.
Neste caso não apenas das suas 16, mas de todas as 32.
Entretanto era vê-lo fazer contas.
Percorrer com os dedos as casas vazias do seu tabuleiro.
Tanta memória. Tanto esforço. Tanto…
Mas e a alma? O prazer? O deixar os nossos sentidos entrar no campo?
E, contra todas as conjunturas, ganhou! Um intenso e inesperado check-mate!
Como humano sonhador e desejoso também de vitórias, imaginei-me a fazer um jogo assim. A adquirir um intenso e inquestionável conhecimento da vida, que me permitisse joga-la assim. Matematicamente, memoricamente. E no fim, sem grande custo, check-mate!
Mas! (Tantos mas…) valeria a pena? Tanto estudo. Tanto conhecimento! Tanto… nem sei!
E o jogo?!? Sim, o jogo! Jogar só por jogar?!? Quase como naquele poema “…beijar só por beijar”.
Não! Não quero só ganhar!
Quero jogar!
Quero mexer as peças consoante o que sinto. Sentir, ver, cheirar, tocar, saborear… cada uma das minhas 16 peças.
Ser surpreendido pelo movimento das peças do outro.
Sentir-me dentro de cada uma das minhas peças…
No fim de contas o que é a vida???
Para ti não sei.
Para mim… é jogar...

quarta-feira, outubro 05, 2005

Correr!

Correr!
Correr!
Correr!
Tantas vezes utilizei este verbo para explicar a minha vida. A minha, e a da maior parte da sociedade.
Correr!
Correr!
Saltar…!
Sim, às vezes saltamos um pequeno capítulo da nossa vida!
Mas a corrida mantêm-se. Às vezes mais rápida, outras mais cândida, mas sempre a correr. Com medo que nos passe algo ao lado. Que isto ou aquilo nos fuja por entre os dedos.
E parar?
Sim! Quantas vezes paramos?
Quantas vezes oferecemos a nós mesmos um momento?
Um simples momento…
Uma altura em que nós paramos, e apesar de tudo a nossa volta continuar na sua corrida eterna, nós parámos!
A mente fechada.
Os sentimentos desligados.
Apenas o coração mantêm a sua batida. Calma, rítmica, única…!
Dizem ser necessário este momento.
E as vezes gostava de o conseguir.
Mas não consigo!
Preciso de me sentir vivo. E para isso preciso de correr!
Correr!
Correr!
E de vez em quando… Saltar!

terça-feira, outubro 04, 2005

Sozinho…

Mais uma saída sozinho!
Mais um momento de poesia no bar… sozinho!
Mais uma vez, sentado no bar, a ver cada uma das pessoas!
A observar os gestos,
A ouvir as conversar,
A sentir o ambiente.
É engraçado perceber quantos deles se sentem sós no grupo.
Sentir quantos casais estão ali apenas fisicamente.
Perceber os casais que estão, apenas, a observar o resto do bar. Enquanto esperam…
A menina que apenas olha pela janela.
Das colunas esvoaça um som rítmico, de um grupo qualquer de jazz.
Reparar no homem que ocupa uma mesa a um canto. Tendo por companhia uma cerveja e um maço de tabaco.
Uma jovem despe duas camisolas antes de se sentar.
A menina do bar atenta a cada uma das mesas.
Fala com cada uma das pessoas.
Fala com um sorriso… mas um sorriso triste!...

E eu…
Sentado numa mesa!... Sozinho!
Desta vez por vontade.
Por necessidade intrínseca de estar comigo.
Podia ter ido para o Bairrio mexer o corpo ao som da salsa.
Podia ter ido, pela primeira vez, ao Docks.
Mas fugi…
Não de mim, mas de todos os sentimentos.
Podia ter estado com esta e aquela.
Mas não seria capaz de estar.
Se fosse… ia estar longe…
Ia ter a mente num outro sítio longínquo.
Reparo agora num corpo sentado numa cadeira adjacente.
Não me atrai.
Começou a poesia!
“…o meu coração é um cofre fechado…” lê o declamador.
Nenhuma mulher me atrai!!!

Quero apenas um colo para me deitar…
Para me ANINHAR!!!

segunda-feira, outubro 03, 2005

Where the soul (of man) never dies

"To Canaan's land I'm on my way
Where the soul (of man) never dies
My darkest night will turn to day
Where the soul (of man) never dies

(lead)
No sad farewells
No tear dimmed eyes
Where all is love
And the soul never dies

(tenor)
Dear friends there'll be no sad farewells
There'll be no tear-dimmed eyes
Where all is peace and joy and love
And the soul of man never dies

The rose is blooming there for me
Where the soul (of man) never dies
And I will spend eternity
Where the soul (of man) never dies

The love light beams across the foam
Where the soul (of man) never dies
It shines and lights the way to home
Where the soul (of man) never dies

My life will end in deathless sleep
Where the soul (of man) never dies
And everlasting joys I'll reap
Where the soul (of man) never dies
I'm on my way to that fair land
Where the soul (of man) never dies
Where there will be no parting hand
Where the soul (of man) never dies"
Johnny Cash

O primeiro nick que escolhi, já lá vão uns valentes anos, foi soulman_ !

Na altura, escolhi este nick por dois motivos muito simples.
O primeiro porque era também o título de uma música que na altura me fez gostar ainda mais de blues, R&B and soul. E claro está, a música chamava-se "I'm a Soulman" the Sam&Dave
O segundo motivo, foi porque acredito que toda e qualquer pessoa deve ter sempre presente a excencia da sua alma.

Claro que ao longo da minha vida descobri que não é assim tão simples quanto isso. Que as vezes manter a alma livre e solta é tão utópico como a música do Zeca Afonso "Utopia".

No entanto não desisti de acreditar que seria sempre possível ser um SOULMAN. Ter sempre a alma livre. Acima de qualquer outra coisa que aparece-se. Ter sempre presente que a nossa alma é o resultado dos nossos ideais, dos nossos valores culturais e dos nossos projectos de vida.

Claro. Como a minha própria definição de alma diz: "é o resultado dos nossos..." Logo ai, tenho de ser humilde o suficiente para admitir que cada pessoa tem a sua própria alma. E que não podemos exigir que, acreditem no mesmo que nós acreditamos.
Ou será que posso ser um pouco intolerante e transmitir aos outros aquilo em que acredito. Crença essa baseada apenas no resultado da minha própria experiência.

E ao longo da vida fui crescendo. Mudei de nick. Não porque deixei de acreditar no SOULMAN, mas porque a minha vida se passou a identificar mais com o actual.
Mas tenho de admitir que, a certa altura a minha força e crença no SOULMAN ficou enfraquecida. Perguntas-me porquê? Penso que somente, devido a dificuldade que é a própria vida.

Mas entretanto descobri esta música. "Where the soul (of man) never dies". E ao ouvi-la reparei que o autor diz-me que só na morte a nossa alma viverá. E fiquei um pouco... "WOW... que é isto".
Mas lá li com atenção e fiz outra interpretação. Para conseguirmos chegar ao local onde a alma nunca morre. Temos de lá chegar com alma. Não a podemos perder no caminho. Não a podemos abandonar e esperar resgatá-la mais tarde. Não a podemos guardar num cofre para depois ir lá buscá-la.

Temos de seguir dia-a-dia com ela dentro de nós.
Temos de caminhar por entre os vales e sendas, entre rios e montanhas com ela dentro de nós.
Temos de continuar lutando a dura batalha da vida.

Para que, quando chegarmos a esse lugar, a nossa alma permaneça viva nos corações e lembranças de todos aqueles que por um motivo ou outro, cruzaram a nossa vida. E ai sim, sejamos capazes de ir sem despedidas, choros, tristezas...

Até lá... I'll be arround;)