terça-feira, janeiro 31, 2006

Para Partilhar...

Das viagens


"viajo
no teu corpo
caminhos
nunca imaginados

delírios
de náufrago à deriva
em noite de temporal.

viajo em ti
sonhos de uma ternura
nunca sentida."


Ademir António Bacca

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Pedaço de carne

Hoje arranquei um pedaço de carne
Uma parte de mim mesmo.
Uma saliência que me acompanhava fielmente
E eu sem mais nada... Zás, catrapáz!

Acordei, levantei, lavei, vesti.
Verti naquele espaço entre o esófago e o duodeno, café quente,
Enchi com torrada.
Vi o e-mail, li, li, reli, sorri, alegrei-me, respondi.
Sai, percorri, cheguei!
Esperei... esperei... esperei...
Ouvi, levantei, entrei...

"Mostre o sinal que já não me lembro como é!"
Obedeci! Despi, mostrei.
"Deite-se na maca, barriga para cima, cabeça para ali."
"É melhor tirar a t-shirt toda"
Obedeci,.. Deitei, fechei os olhos.
"Pero doutora, que no-lo intiende. Eu è dito que iria a hazer 2 turnos completos"
"Vou dar a anestesia. Vai sentir uma picada que vai doer."
Abri ligeiramente os olhos. Estarreci!!!

Imagens de agulhas invadiram a mente... Pânico, stress...
Respirei... Respirei fundo... Fechei os olhos.
Senti, um ligeiro picar lá ao longe.
Tremi.
Respirei fundo. Franzi o sobrolho.

O ligeiro picar aproximara-se um pouco mais.
"Doutora, la reunion há sido caótica. Que puedo yo hazer mas. Que lo é dito que haso 2 turnos más"

"Vou cortar com tesoura."
Cerrei fortemente os olhos!
Respirei respirei respirei; respirei...!

"Click, click, click, click, clack"
"Com o antigo director de serviços, as coisas não chegariam a este ponto.
Coloque no frasco para enviar para análise"
"Quiere el numero 3?
o antes el 2?
4?"
"Hummm... dá-me o 5!"
Abri. Olhei em volta...

Agulha, alicate, linha, tesoura...
"É uma cicatriz grande. Vou dar 5 pontos para cicatrizar melhor!"
Cerrei os olhos... Cerrei com toda a força!
Inspirei... Sustive... Expirei suavemente.

Senti! Mordi os lábios!
A agulha ia entrando e saindo, unindo os 2 pedaços de pele separados...
Cerrei ainda mais os olhos.
Senti a tesoura trabalhar.
Não foi tão mal assim. A anestesia ainda estava lá.
"Daqui a 2 ou 3 dias o penso vai sair, depois tem de secar bem os pontos com um secador de cabelo. Em seguida desinfecta com betadine e coloca novo penso. Vou passar um credencial para ir no dia 31 tirar os pontos. Tenha um resto de bom dia"

Sai, suspirei...
Já estava!
Fui!

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Apetecia-me pegar em ti e...

Estacionar o carro as 09h30 de sábado no centro da vila de Sinta. Subir aquela estreita ruela a pé e entrar na Piriquita, casa primeira no fabrico dos deliciosos travesseiros, e tomar um pequenoalmoço consistente e que fornece-se a energia suficiente para começar o dia.

A saída, abrir bem os pulmões, inspirar aquele ar límpido e puro, e seguir a pé, sem pressas, até a entrada da Quinta da Regaleira.

Seguir o grupo e fazer uma visita guiada, ouvindo as explicações de cada uma das áreas que formam aquele espaço mágico.
Começando no Terraço dos Deuses. Passando pelos lagos ocultos, cheio de passagens subterrâneas. Indo até à mesa das reuniões (espaço do qual já não me recordo do nome) e chegando ao Poço da Iniciação, que culminará depois nas costas de uma bela cascata de água límpida e gelada.
Continuando depois a seguir o caminho passaremos pela Torre. Estrutura de pedra que deu o nome originário da quinta: Quinta da Torre.
Estes são uns dos milhentos sítios que iríamos visitar. Para depois culminar na casa em si e, visitar o pequeno museu lá instalado, com dezenas de pequenas amostras da cultura maçónica e templária, entre outras esotéricas.

Depois desta visita de 2horas, convidar-te-ia para irmos passear mais um pouco pela Quinta. Parar num recanto de um jardim e fazer um ligeiro pic-nic.

Aproveitar aquele pedaço de natureza trabalhada e descansar o corpo, o espírito e recuperar forças com umas frutas, sandes, e outras pequenas delícias típicas de pic-nics.

Continuando o dia, perguntaria-te se querias subir mais um pouco e ir visitar o fantástico Palácio Nacional da Pena, para em seguida descer pelas traseiras onde encontraríamos o lindíssimo "Jardim dos 7 lagos" (isto se não me falha o nome do jardim). Jardim magnifico, com uma vegetação fabulosa e aconchegante.

No fim. Iríamos fazer o caminho de regresso ao centro da vila e encontrar um pouco de calor no meio da sociedade. Entraríamos num belo recanto, um verdadeiro pasto de delícias. Um salão de chã, pequeno e com um maravilhoso cardápio de prazeres terrenos e mundanos. Desde os belos scones, acompanhados com doces melados, que nos escorrem pela face abaixo, ao famigerado bolo de chocolate.

Em seguida, a medida que o sol vai preparando a sua cama, e ajeitando docemente os seus lençóis. Dando origem assim a sua irmã lua. Que nos ira acompanhar pelo resto da noite. Pegaria na tua mão. Perguntaria se ainda eras dona um sopro de forças para caminhar mais um pouco, e pedindo-te que confiasses em mim, levar-te-ia de novo até ao carro.

Conduzir-te-ia durante uma hora pelo meio de estradas cheias de curvas, estreita e acompanhada lado a lado pela linha do eléctrico.
Começarias a sentir um ar mais fresco, um cheiro a maresia no ar.
Imobilizaria o meu velho SU na berma da estrada e pedia que olhasses o oceano prostrado a teus pés. Depois convidar-te-ia a jantares comigo num restaurante calmo e perdido nessa berma, com vista para o companheiro Atlântico.

E quando finalmente tivesse-mos de pedir a dolorosa, iria então conduzir-te durante mais uns minutos, até que chegássemos e enterrássemos os pés na areia fria da noite!

Apontando-te para a escarpa, far-te-ia ver uma pequena escadaria de pedra, com um corrimão feito de corda grossa e pegando na tua mão desafiar-te-ia a subir comigo. Prometendo-te uma das mais belas paisagens deste pais desterrado e à beira-mar esquecido.

No fim da subida nada diria... e a partir daqui mais nada escreverei...

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Descobertas da vida..

Por obra do acaso e outras sortes afins, ontem tive a oportunidade de ir assistir a uma "conversa informal" no auditório Cine-Arte A Barraca.

Uma conversa que visava a origem do FADO enquanto expressão musical.

Um tema que achei deveras interessante, principalmente por ser uma expressão musical que aprecio e também por ser bastante desconhecida para mim, no que toca as suas origens.

Possuia o dogma que seria uma expressão musical que tinha tido fundamentalmente enraizada em Portugal com o Salazarismo. O que não é de todo errado, no entanto o fado é anterior a isso. E se verificarmos com atenção até é contrário a isso.

Hoje, depois de ter dormido sobre o assunto decidi fazer uma pesquisa sobre o tema "História do Fado" e descobri coisas decerto interessantíssimas. Como por exemplo o "Prefácio do FADO" que poderão ler no link que coloquei.

Mas o que resolvi vir aqui partilhar com vocês, é uma outra veia do fado que encontrei nesse mesmo site e que resolvi transcrever para aqui.
Intitulado de "As Cegadas", encontramos em Portugal, ainda antes da implantação da Republica, um estilo engraçadissimo de expressão musica e até bastante teatral. Leiam o seguinte texto que até esta bastante actualizado devido ao panorama politico em que vivemos neste momento com as presidenciais à porta:

"As Cegadas

Algumas curiosidades sobre as "Cegadas".

Existiram vários tipos de "Cegadas". Não havendo uma data rigorosa para o seu aparecimento eu arrisco a data de 1880 para o aparecimento dos primeiros espectáculos de rua, cantadas em tom maior, em FADO Corrido. As "Cegadas não eram mais que uma crítica, cantada em verso, dos costumes e desavenças da época. Nela participavam quatro homens, um, vestido com saias que representava a mulher do lupanar, cantadeira e mulher de vida fácil, outra personagem o Janota, também conhecido pelo "pagantes" (que só pagava quando a sua protegida lhe fornecia empréstimo a fundo perdido). Participava também um polícia que empunhava uma espada de pau e tinha por função manter ou provocar a desordem e finalmente o Galego. Foram muitos os Galegos que emigraram para Lisboa. Faziam os trabalhos que ninguém queria, muitos deles conseguiram subir na vida e ainda existem hoje em Lisboa muitos restaurantes dessa proveniência. Durante os três dias do Entrudo estas boas almas, de bolsos depenados, actuavam nos bairros de Lisboa onde a populaça assistia em redondel e os mais priveligiados, não fosse o Diabo tecê-las, assistiam a estas fadistices de rua nos seus camarotes (nas janelas dos prédios que circundavam o local onde a "Cegada" tinha lugar), no final, os quatro actores diziam a célebre frase "cinco reis, dê reis, tudo é dinheiro". Como nem sempre os assuntos versejados eram do agrado do auditório, havia sempre alguém que se picava, em geral a pancadaria final fazia inveja aos produtores de filmes de Cowboys americanos. Ou porque os actores se cansaram das nódoas negras, dadas sem intensão pelas cargas policiais, ou porque o FADO se tornou mais polido, as "Cegadas" tornaram-se dramáticas e passaram a evocar situações históricas cantadas em tom menor, mais propício ao ambiente evocado. Serviam de tema o drama de D. Inês, o exílio de Camões ou o nevoeiro que impediu o regresso de D. Sebastião. Quando a República passou a ter os seus adeptos e Marx e Lenine começaram a ser lidos, as "Cegadas" começaram a ser políticas e serviam de campanha política para a sensibilização da opinião pública para a queda da Monarquia. Já agora, permitam-me o aparte: terá alguma coisa a ver com o assunto as campanhas política actuais serem uma grande cegada? O FADO serviu, uns anos antes da queda da Monarquia em 1910, como canção política. A provar esta afirmação João Black, socialista republicano que começou a cantar em1893, deslocava-se muitas vezes ao Alentejo para cantar os seus Alexandrinos políticos, a que ele chamava cantigas ao domicílio. Se vivesse na época actual eu chamar-lhe-ia especialista em presidências abertas."

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Hoje...

Hoje recomeço as aulas de dança...

Depois da interrupção devido ás festas natalícias, as aulas regressam ao seu estado normal.

Todas as segundas-feiras, às 21h30 lá entramos na salão e começamos a mexer o corpo ao som do merengue para fazer o aquecimento.

Toda a gente virada para o espelho vai imitando o movimento do professor e tentando segui-lo, sem nunca perder o ritmo da música.

Depois lá começamos. O Jorge (o professor) lá diz qual é o estilo de dança que vamos aprender naquele momento. Aprendemos variadíssimas, desde as músicas de Salão Modernas: Slow Foxtrot, Quickstep, Tango, Valsa lenta e valsa Vienense, até as danças de salão latino-americanas: Cha-Cha-Cha, Rumba, Samba, Paso-Doble, Boogie-Woogie e jive.

As vezes dou por mim a lembrar-me que se alguém me tivesse dito há 5 anos atrás que eu estaria agora a aprender danças de salão, o chamaria louco! Nunca me passou pela cabeça que viesse a gostar deste tipo de danças. Nunca fui de ir a bailaricos, excepto para me sentar na tasca a beber a cerveja acompanhado do pica-pau, das moelas bem picantes, ou de outro petisco qualquer. Para mim dançar era, passo para um lado, passo para o outro, segurando o copo na mão e olhando para as pessoas que se mexiam.
Ou então, ia para a pista do velho rock, hard-rock, heavy metal, and soy on e ai libertava toda a líbido escondida no meu corpo e deixava-me mexer quase que em transe. Sempre a bombar ao som dos White Zombie, Body-Count, pantera, e tantos outros, principalmente outros do Rock nacional...

Depois comecei a conhecer outro género de música, resolvi fazer uma incursão pelas raizes do rock. Encontrei os Blues, o Jazz, o Swing. A partir de certa altura fiz uma incursão pela música Pop, encontrei coisas interessantes... Mas nada me faz mexer mais que o som de uma guitarra eléctrica. Ouvir um mestre como Steve Vai, Joe Satriani, B.B. King, Carlos Santana, até mesmo o som do já falecido John Lee Hooker...

Mas hoje recomeço as aulas de dança. E acreditem que já não consigo estar sem elas...
Nem sei explicar o bem que sabe sair do trabalho, ir fazer o jantar a casa, vestir uma roupa mais confortável e estar das 21h30 as 23h 23h30 a dançar, a aprender passos novos, a rir-me dos meus erros e das minhas figuras de urso. Saio de lá com uma alma nova.

Depois é o resto da turma, rir-mo-nos só porque já não aguentamos mais com a cara séria da/o nossa/o parceira/o. Que está tão concetrado que até perde toda a expressão facial... Ou então aquele que esta a tentar aprender o passo base de tango... e quando dá conta já esta a fazer o passo base de quickstep... (este fui eu... já estava tão baralhado que pronto... fiz curto circuito.)

E assim é... uma actividade que já faz parte do meu dia-a-dia... Já ando na rua a lembrar-me dos passos das várias músicas, já vou a um bar e começo a ouvir e a mexer o corpo ao som da música, entrando logo no passo certo.

Sabe mesmo bem;)

segunda-feira, janeiro 02, 2006

2006... E começa assim nova etapa.

E começa mais um ano.

Com mais ou menos festejos, a transição de ano é visto pela grande maioria das pessoas como o começo de uma nova etapa.
Fazem-se projectos, criam-se metas, traçam-se planos.
E de uma maneira ou de outra esta mudança de calendário ajuda muito na execução dos mesmos.
Parece dar um certo alento as pessoas. Pois não é apenas um dia qualquer. É o dia da mudança do ANO.

"ANO NOVO VIDA NOVA" lá diz a tradição popupar.

E como tal, eu também não fujo a regra. Começa mais uma etapa da minha vida.

Como é obvio, um rapaz de raizes populares como eu, obedeci às variadíssimas tradições populares e pagãs que circulam nesta data:
A roupa interior azul,
O salto nas 00h00:00,
Uma passa por cada badalada do relógio,
Pedir um desejo por cada passa,
Beber o champanhe em sinal de abundância e prosperidade,
Abraçar os amigos queridos que estão pertos e telefonar aos familiares que estão longe,
O brinde entre todos,
Desejar a toda a gente que se encontra na rua um Feliz Ano Novo,

Penso que escrevi todas as tradições que circulam a data. Bem, se não são todas, pelo menos são as que eu aprendi e que sempre cumpri ao longo destes anos todos.

Se são verdade, se resultam, não sei, não quero saber, e por favor não venham para aqui com dissertações sobre isso.

Uma coisa eu tenho a certeza e posso dizer que é sem dúvida uma verdade aceite. O acreditar nestas tradições populares ajuda. Dá força e alento para seguir em frente e construir os sonhos. E no fim de contas é só isso que importa. Que arranjemos esperança para continuar em frente a sorrir. Umas vezes seguimos a correr, outras a passo, umas até a rastejar. Mas sempre em frente e de preferência com um sorriso nos lábios.

Se por vezes não encontrarem motivos para sorrir... Ai então poderão sempre fechar os olhos e lembrar... lembrem-se de quem são, de onde vieram, dos vossos amigos. E verão que há sempre um motivo para sorrir.

Feliz Ano Novo para todos

Que recebam o mais possível dos vossos desejos