quinta-feira, outubro 06, 2005

Entrega…

Nestes últimos dias tenho sentido um emaranhar de sentimentos difusos e complexos.
Já ouvi muitas comparações a tentar explicar a vida. Talvez ouvi demasiadas. Todas elas bastante iguais. Mas neste momento, uma distancia-se das outras: “A vida é como um jogo de xadrez! Desenrola-se consoante tu espalhas as peças no tabuleiro!”
Tenho de admitir que concordo imenso com esta comparação.
No entanto… parece-me faltar algo!
Joguei e jogo xadrez bastantes vezes! A maior parte das vezes perdi o jogo.
Pouco ou nada conheço de Kasparov.
Desconheço completamente as famosas jogadas estudadas e programadas.
Basicamente sei mexer as peças. O resto vem de dentro.
Jogo com os sentidos.
Com o estado de espírito do momento.
Talvez por isso perca tanto!
Talvez me devesse preparar mais!
No entanto… No entanto gosto de jogar assim.
Gosto de sentir que faço parte do jogo.
Sou torre e peão ao mesmo tempo.
Sou eu quem decide, como ser irá comportar cada uma das minhas 16 peças da vida.
E cada uma delas mexe-se consoante estou naquele preciso momento.
E é isto que sinto falta na comparação que atrás escrevi.
Falta a alma.
Aqui à uns dias atrás, vi duas pessoas a jogar xadrez. Uma delas encontrava-se de costas para tabuleiro de jogo. Possuía apenas nas suas mãos um tabuleiro vazio. E ia guardando a imagem visual das peças.
“CAVALO DE RAINHA PARA C3”
Tanto conhecimento de jogo!
Tanta lembrança visual das peças.
Neste caso não apenas das suas 16, mas de todas as 32.
Entretanto era vê-lo fazer contas.
Percorrer com os dedos as casas vazias do seu tabuleiro.
Tanta memória. Tanto esforço. Tanto…
Mas e a alma? O prazer? O deixar os nossos sentidos entrar no campo?
E, contra todas as conjunturas, ganhou! Um intenso e inesperado check-mate!
Como humano sonhador e desejoso também de vitórias, imaginei-me a fazer um jogo assim. A adquirir um intenso e inquestionável conhecimento da vida, que me permitisse joga-la assim. Matematicamente, memoricamente. E no fim, sem grande custo, check-mate!
Mas! (Tantos mas…) valeria a pena? Tanto estudo. Tanto conhecimento! Tanto… nem sei!
E o jogo?!? Sim, o jogo! Jogar só por jogar?!? Quase como naquele poema “…beijar só por beijar”.
Não! Não quero só ganhar!
Quero jogar!
Quero mexer as peças consoante o que sinto. Sentir, ver, cheirar, tocar, saborear… cada uma das minhas 16 peças.
Ser surpreendido pelo movimento das peças do outro.
Sentir-me dentro de cada uma das minhas peças…
No fim de contas o que é a vida???
Para ti não sei.
Para mim… é jogar...

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