sexta-feira, agosto 19, 2005

Apeteceu...

Pois é...

Estava-me mesmo a apetecer escrever... Mas apetecia-me sobretudo voltar a ouvir o som da minha velha "OLIVA 2002".
Uma pequena máquina de escrever ainda com o teclado "AZERT". Tantos dias e tantas noites que esta máquina já me acompanhou... Tantas cartas e diarreias que lá escrevi.
Muitas vezes só para ouvir o bater das teclas, ver a folha de papel de tom amarelado, que ia sendo preenchido por pequenos pedaços de tinta que passavam da fita para lá pela força do ferro. E depois quando vinha aquele plimm a anunciar que já só tinha espaço para mais 5 caracteres... O puxar da manivela e ver a folha subir mais um paragrafo... O ambiente mágico que criava sempre... A luz das velas a volta, o cinzeiro quase cheio e o maço de tabaco quase vazio... O copo de um licor ao lado... E as letras apareciam marcadas na folha... As palavras iam-se formando. As frases iam-se complementando. E o meu desejo de escrever só por escrever ia sendo consumido.
Escrevia e escrevia horas e horas. E escrevia tal como escrevo aqui... Sem lógica nem motivo...
Ou teria todos os motivos do mundo para escrever??? Não sei! Apenas sei que adorava escrever assim...
Hoje apeteceu-me voltar a fazer isso.
Acabei de ver o "Shakespeare in Love" com 4 velas acesas. Depois fui buscar mais 5 velas que acendi. Coloquei a minha companheira no meio da sala e lentamente retirei o seu vestido protector. Expondo assim ao meu olho a sua nudez. Aquelas teclas brancas com letras a negro a identificarem cada uma delas, a manivela a espera de ser puxada. A fita a espera de ser martelada pelo ferro duro que contem a letra a cravar na folha de papel... Pois... e a folha? Onde esta a folha safada e cruel. Percorri a casa toda a procura dela. E nada. A folha tinha fugido. Não tinha nenhuma folha em casa que estivesse a meu lado e me acompanha-se naquela viagem entre o meu EU e o prazer que dai iria advir.
Então, mantendo a minha companheira a meu lado, deixando as velas a arder. Peguei neste portátil e decidi escrever aqui. Nesta folha virtual.
Então estou sentado no sofá, com o portátil a frente a tocar uns mp3 dos "The Doors", o monitor brilhante, as teclas suaves e silenciosas...
Sim, sinto falta do barulho da "OLIVA2002", sinto falta do seu cheiro. Ela esta aqui ao meu lado, mas não podemos consumar o amor que existe entre nós. Falta algo. Falta algo muito importante. Falta... Falta a preparação. Falta o desejo final de ter as coisas sempre prontas e faze-las andar. Falta a entrega total e descompreendida.
Assim, castrado de uma noite de prazer intenso, vou-me masturbando nestas teclas silenciosas e frias. E vou vendo as letras a aparecer quase como que por magia na folha branca que é este pedaço de monitor.

Sim, apetecia-me escrever... Mas sobre o que? Sobre nada mesmo. Como disse acabei de ver o filme "Shakespeare in Love" por isso acho que apenas posso falar de amor...

Mas que raio é o amor?

Algum sentimento forte e intenso que faz com que as pessoas sejam mágicas e maravilhosas?
Algum suspiro que vai transformar tudo a volta em beleza e alegria?
Algum desejo intenso e absorvente que faz com que tudo a volta deixe de existir?

Não... O amor é algo muito mais forte que isso. O amor preenche a nossa vida em tudo o que é importante. Conduz-nos e faz-nos fazer as maiores loucuras. Aquece-nos nas noites frias e dá-nos asas para voar-mos, usando o vento do sul para nos guiar por vales e rios, montanhas e oceanos.
O amor... O amor não é só chama que arde sem se ver... O amor é muito mais que isso... O amor é algo que esta dentro e fora de cada um de nós. É algo que nos faz respirar com mais intensidade. É algo que nos faz apreciar os cheiros que nos rodeiam com muita mais delicadeza e subtileza.
O amor...

Mas eu só posso sonhar com ele. Apenas posso olhar de fora, tal qual um espectador, a ver um filme na televisão sobre esse tema.

Isto porque o amor precisa de ser alimentado. O amor precisa que as pessoas se deixem levar por ele. Que as pessoas deitem mascaras por terra e se entreguem com toda a sua força e honestidade.
O amor precisa do desejo a seu lado.
O amor precisa da vontade.
O amor precisa...
O amor precisa de tudo o resto para seguir em frente.

Não podemos separar o amor de nada. Não podemos esperar que o amor faça tudo sozinho.

Tal como não podemos escrever na velha máquina de escrever "Oliva2002" sem uma simples folha de papel, também o amor não pode existir sem o resto de nós.

Nunca, mas nunca mais me esquecerei disto.

Amanhã irei comprar uma resma de papel reciclado para ter cá em casa para o futuro. E juntamente com a resma de papel, irei também colocar a lembrança que, para haver amor tem também de haver todo um EU. Sem máscaras nem tabus.

Bem... que raio de cena acabei por escrever... Não era nada disso que estava a pensar em escrever quando comecei. Mas como sempre deixei-me ir... Deixei que os dedos fossem apenas o instrumento do meu corpo. Deixei-os acariciar as teclas silenciosas e frias deste portátil de modo a que transportassem tudo o que estava dentro de mim... Bem tudo não... Há sempre algo novo. Há sempre algo mais que vamos aprendendo e que nos vai fazendo evoluir...

Por isso... Até um dia...

1 comentário:

Anónimo disse...

nao imaginas cm comprendo a tua definição de amor....sem dúvida q temos as mesmas inquietudes. dizes bem q o amor n pode existir sem o resto de nós. Hoje sei q nunca tive esse amor, porque nunca gostei nem aceitei o principal para que ele aparecesse, EU PRÓPRIA.
Obrigada por seres o excelente amigo q és. E mesmo aqui longe, em terras de "nuestros hermanos", os teus pensamentos são como um abraço forte teu...