terça-feira, outubro 26, 2004

É incrivel...

É incrivel como alguêm chega a esta idade e, sem nunca ter recorrido á necessidade da fuga pela escrita, dá por si a ter esse sentimento.

Ok estou a mentir um pouco.

Realmente nunca senti necessidade de ter um diário ou algo do genero, mas sempre escrevi montes de coisas. Principalmente cartas enviadas para ninguêm... Para ninguêm mas ao mesmo tempo para todos.

Durante toda a minha adolescência, escrevi milhares de cartas, que depois seriam enviadas, envoltas em cinzas, para quem as quizesse sentir passar.

A necessidade de escrever já me acompanha desde ai! Escrevi pequenos textos, pequenas cartas, pequenos desabafos, poemas (sim também passei por essa fase), uma peça de teatro, outras tantas que ficaram apenas no começo, contos eroticos, eu sei lá...
Mas o mais engraçado disto tudo é que, tirando uma ou outra coisa, escrevi apenas pelo prazer masturbador que é escrever.
Neste momento, sinto necessidade novamente desse prazer. Sinto novamente necessidade de me masturbar em palavras que jorram sem parar da minha mente.
E chamo a este prazer masturbar porque? Perguntarão vocês... (pelo menos já várias pessoas me interpelaram nesse sentido). Chamo masturbar ao acto da escrita, tal como ao habito da leitura, porque isto é um prazer individual que cada um de nós tem. Cada pessoa que lê um livro, por mais técnico ou especializado que seja, lê-o e interpreta-o a sua maneira. É uma leitura só dele. Tal como a escrita! Quem é que escrever por prazer, (atenção que estou a retirar toda aquela outra escrita que somos obrigados a escrever por terceiros) sem escrever primeiro que tudo para si próprio? Quem é que quer escrever seja o que for, senão para se sentir melhor consigo próprio?
Ora bem! Se formos a ver assim as coisas, e se fizermos uma comparação com o sexo (tema com o qual eu gosto de comparar as coisas), quase que seremos obrigados a comparar o acto da escrita e da leitura com a masturbação. Quem é que se masturba sem ser para dar prazer a si mesmo? Sem ser para libertar de alguma forma, os seus desejos mais escondidos do corpo?

Bem, mas estas linhas não são para estar a comparar ou a provar a minha opinião sobre a leitura-escrita/masturbação.
Estas linhas são mesmo para me masturbar a mim mesmo. Para me permitir a uma explosão de prazer narcízico, por meio de umas palavras soltas, que decidi juntar numa compilação de frases. Na vã tentativa de criar um texto com algum sentido ou lógica.
Provavelmente falhei redondamente. Provavelmente, quando reler estas linhas, irei apenas encontrar um chorradilho de emoções sem lógica.
Se calhar por ser assim que me sinto. Ou talvês por é assim que a vida é! Uma constante coorelação de emoções ilogica e irraciais, que o ser humano tenta a todo o custo perceber e catalogar.
Toda a minha vida evitei fazer esse jogo desgastante e cruel que é analizar cada uma dessas emoções, de modo a perceber que, existe um certo e determinado padrão comportamental, que faz com que o ser humano tome certas e determinadas atitudes.
Aliaz, Pavlov e a sua matilha de cães amestrados, provaram existir a tal "estímulo/reacção". Estes estudos até são obrigatórios a todos os alunos do 1º ano de psicologia (eu sei... eu andei lá).
E realmente é verdade. Se durante algum tempo, tivermos sempre a mesma reacção perante um determinado estimulo exterior. As pessoas a nossa volta, irão esperar sempre que, perante aquele estimulo nós tenhamos sempre a mesma reacção.
Será que é porque as pessoas tem necessidade de uma certa estabilidade? Ou será porque nós, realmente somos como os cães de Pavlov? Que facilmente iremos ser amestrados perante um determinado conjunto de estímulos?
Ou então, será que nós próprios, temos necessidade desse contínuo acto de tarefas comuns e iguais no dia a dia? Aquilo que toda a gente que vê de fora comenta: "É habito dele fazer aquilo a esta hora!"
Quanto a vocês não sei o que pensam!(isto se alguêm se der ao trabalho de ler esta merda).
No entanto eu não acho que isso seja assim tão linear. Alias, já a minha avó costumava dizer: "O habito não faz o monge!". E realmente tenho de concordar com esta velhota linda de belos cabelos brancos. Eu não sou um monge. Eu nunca quiz ter um hábito, alias detesto fardas e tudo aquilo que elas representam.
Neste momento encontro-me a ouvir uma música (não sei quem a escreveu, mas penso que foi o Bob Dylan) tocada por B.B. King e mais algum amigo, num cd que se chama "The Generation Club Live" de 1968. (claro que o tenho porque encontrei algures na net o album em mp3, pois em Portugal encontrar este tipo de músicas e cd's é mentira... ou é caro ou ninguêm conhece)! Mas voltando ao que interessa. Ouvir esta música dá realmente vontade de enconstar o corpo para trás e deixar-me voar. Fechar os olhos e permitir que a mente me bombardeie de imagens aleatórias que nada mais fazem do que encher-me de sonhos e ideais. Sentir como a voz e a guitarra se misturam num vibrante conjunto de tons sonoros.
E agora encontro-me a olhar para o monitor, a bater com os dedos na secretária ao som da música, e a não conseguir encontrar palavras que se consiga juntar com alguma lógica, por mais ilógico que este texto seja, para continuar a escrever.
No entanto tenho a cabeça a 1000... Tenho milhares de pensamentos desorganizados a bombardearem-me duramente a massa cinzenta.
Vêem-me a cabeça pequenas partes do filme que vi a pouco "small time crooks" do Woody Allen (um filme que aconselho vivamente). Aquele pequeno homenzinho que se auto-intitula de "O Cérebro - O Génio" (pelo menos passa metade do filme a dizer isso de si mesmo), Conseguiu mais uma vez criar uma história de amor fabulosa, com tantos argumentos e dissertações/confusões, que o filme só pode ser um quanto ou tanto surrealista, mas ao mesmo tempo doce e cómico.
E no meio daquele filme, cheio de peripêcias, encontros e desencontros, a coisa que mais guardei, foi ela a dizer a mulher: "não te lembras dos nossos sonhos? Não te lembras quando olhavamos para este por do sol por cima de New Jersey, e apenas viamos o Por do sol?"
Onde é que anda esse "apenas"? Onde é que anda o gosto pelo pequeno pedaço? Onde é que anda o pormenor?
Existe tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo a nossa volta, que parece que nos esquecemos de ver aqueles pequenos pormenores que nos arrefecem a mente e aquecem o coração.
Eu devo ser algum ser tolo e esquezito. Pois olho a minha volta e só vejo pessoas a querem o tudo. A querem chegar ao cimo da colina, independentemente daquilo que encontram pelo caminho. Será que sou eu o único que acredita que "... o que conta é o caminho, não o destino!"
Bem, a esta última pergunta não sei responder... Talvês um dia, quando as buganvílias florirem alegremente, eu saiba a resposta.
Até lá muitas outras questões e dúvidas deverão fustigar-me a cabeça de tal modo, que eu esqueça esta.
Por isso...
Fiquem bem e sejam felizes.

1 comentário:

Anónimo disse...

Estabilidade todos precisamos... penso eu de que. Agora há estabilidade e há acomodação.. o hábito de que se fala no texto. E se o primeiro pode trazer alguma felicidade a quem a sente, o segundo pode trazer exactamente o oposto. Cansaço por um ritmo sempre igual, pelas mesmas coisas, pelas mesmas pessoas... por tudo que é sempre igual. Há que não confudir. E muitas mais diferenças existem. É uma questão de definição. Quanto à pergunta «Será que sou eu o único que acredita que "... o que conta é o caminho, não o destino!"»... acho que não. Olha à tua volta.. olha bem.. olha para o que escreveste antes e verás que não. Se assim fosse este mundo era um mundo de cães, em que todos se atropelavam para obter algo não ligando ao percurso a seguir. E olha que os há. Podemos ser poucos, mas ainda há quem ligue ao caminho, ao percurso a seguir. Afinal é nesse percurso, nesse caminho que se trilha aos poucos, que se constroem as bases para o que desejamos para o futuro. É a minha opinião. Ass. HARAS